Supere a timidez

Supere a timidez

Por Karen Jardzwski

Você já perdeu noites de sono porque precisava apresentar um projeto? Já teve a sensação de total incompetência pela falta de coragem para conhecer pessoas em um evento? É comum passar por constrangimentos como ficar vermelho, ter as pernas trêmulas e sentir aquele “friozinho na barriga” toda vez que precisa se expor?

Se você já passou ou convive diariamente com essas situações, sabe bem qual é a sensação de perder oportunidades em função da timidez e o quanto isso pode prejudicar seu desempenho profissional. Isso sem falar nos danos da vida pessoal como dificuldade em fazer novos amigos, declarar-se à pessoa amada e a falta de coragem para falar e fazer o que tem vontade. Nesta matéria, vamos mostrar histórias de pessoas que superaram a timidez e o que você pode fazer para aprender a conviver com essa dificuldade que é comum para muita gente.

As diferentes situações da timidez

Há uma grande divergência entre os especialistas sobre o fato de a timidez ser ou não uma patologia. Para o psiquiatra e coordenador do site Laboratório da Timidez Nei Nadvorny, a timidez é uma doença psíquica e inconsciente: “A pessoa não tem o controle dos sintomas. No dia-a-dia, existem muitas situações nas quais o tímido se depara com sentimentos muito desagradáveis e não consegue se controlar. Por isso, evita ver pessoas ou ir a determinados lugares, trazendo grande prejuízo para sua carreira”.

Já David Carlessi, consultor do Idort/SP, especialista em Treinamentos Comportamentais, Desenvolvimento de Habilidades e Atitudes Gerenciais, tem outra visão. “Jamais consideraria a timidez como uma doença, e sim como um traço de personalidade que o indivíduo apresenta e que pode ter sido modelado pelas suas experiências de vida”, explica. Para muitos especialistas, apenas a fobia social pode ser encarada como doença, mas timidez e introversão não. Para identificar a diferença entre cada uma, confira a descrição a seguir apresentada por Bernardo J. Carducci, famoso pesquisador americano do Instituto de Pesquisas Relacionadas à Timidez da Universidade de Indiana, EUA.

Fobia social

A pessoa evita situações sociais, pois tem muito medo de comer, falar e estar na frente dos outros. Além disso, quando está exposto em um grupo, sua tensão e ansiedade costumam aumentar e o desempenho baixar com o tempo.

Timidez

O indivíduo vai a eventos sociais, por exemplo, mas tem dificuldade para conversar com os outros, principalmente com quem acha atraente ou gente de status. Não é uma doença, os tímidos sentem necessidade de serem aceitos, mas não possuem habilidades de comunicação para ter um bom desempenho.

Introversão

A pessoa introvertida pode participar de eventos públicos, ler, falar, mas prefere atividades solitárias. Ela tem habilidade para ter um bom desempenho durante uma interação, não fica ansiosa nem se critica durante essas situações, porém prefere o isolamento.

O que tem mais a ver com você

É fundamental que faça uma reflexão para entender qual é a sua situação. Se você acredita que tem fobia social, a melhor coisa a fazer é procurar um especialista para ajudar. Se o seu caso é introversão ou timidez, mas na sua opinião e das pessoas que o cercam isso não tem atrapalhado sua vida profissional e pessoal, não há problema em conviver com sua personalidade introspectiva. No entanto, se chegou à conclusão de que é mesmo tímido e isso está trazendo conseqüências como dificuldade para expressar seus sentimentos, iniciar e manter contato com as pessoas e se manifestar diante de pequenos ou grandes públicos, comece agora mesmo a procurar maneiras de resolver essa situação. Confira no site Laboratório da Timidez (www.laboratoriodatimidez.com.br) um teste para identificar se você é tímido.

Supere a timidez

O primeiro ponto importante nessa sua jornada é aceitar para si e para as pessoas ao seu redor que você é tímido e precisa mudar. “Admitir para você e para os outros já é uma grande ousadia. A partir daí, busque ajuda e apoio em seus colegas, familiares ou em sua liderança para enfrentar as situações que poderiam causar desconforto”, aconselha David.

O segundo passo importante, de acordo com Bernardo Carducci, é fazer uma auto-análise para saber que tipo de tímido você é: “Para superar a timidez, você precisa se conhecer melhor. Comece pensando nas situações que o fazem se sentir tímido e por quê”. Você se acha tímido, por exemplo, ao conhecer novas pessoas, ao interagir em um encontro social ou ao falar em público? Tente entender quando e de que maneira sua timidez se manifesta.

Ao fazer essa análise, procure respostas sobre os motivos pelos quais você fica tímido nessas situações. Na maioria dos casos, as pessoas têm dificuldade para se expor, seja num evento ou diálogo, em função do medo de cometer erros ao se expressar e fracassar. “Penso que por trás da timidez há um sentimento: o medo da rejeição. E, para não ser rejeitada, a pessoa se recolhe em seu mundo, tendo um comportamento que não a exponha e que a proteja das situações que poderiam levá-la a ser desprezada”, avisa David. Aconteceu exatamente isso com Waldonier Leal, logo que ele entrou em uma empresa. “Estávamos em uma reunião discutindo problemas de relacionamento que a organização estava tendo com os clientes. Como já havia passado por situação parecida em outra companhia, sabia como resolver a questão. Mas por medo de falar besteira, fiquei calado e saímos da reunião sem soluções”, conta.

Waldonier diz que logo depois procurou sua gerente, apresentou a idéia que tinha para solucionar a questão e a situação acabou bem. Ela convocou uma nova reunião com toda a equipe e deu a oportunidade para ele falar. “Quase desmaiei, mas consegui expressar minhas idéias. Fui parabenizado pela simplicidade e aplicabilidade da solução. E, em tom de brincadeira, chamaram a minha atenção para que nunca mais ficasse calado quando tivesse idéias para ajudar a empresa”, lembra.

Treine para aproveitar as chances

A história de Waldonier teve um final feliz, porque ele teve coragem de falar na segunda chance que recebeu. O problema é que nem sempre temos uma segunda ou terceira chance. O ideal, de acordo com a especialista Liamar Fernandes, que atua nas áreas de Treinamento e Desenvolvimento, é sócia-diretora da Diatheke Consulting Ltda. e integrante da equipe de Consultores da BSP Career, é que você comece a aproveitar as oportunidades que tiver para enfrentar sua timidez. “Quando puder falar em público, enfrente a situação e se expresse como se estivesse sozinho, sem se preocupar com o julgamento das outras pessoas”, indica.

E para se sentir mais preparado para aproveitar as oportunidades, comece a treinar o que fazer nessas situações. O especialista Bernardo Carducci sugere quatro dicas para você praticar o que e quando falar:

Comece com pequenas ações

Vá a lugares onde tenha a oportunidade de interagir com muitas pessoas e em pouco tempo como congressos, eventos ou mesmo no supermercado. Nessas interações, comece sorrindo e cumprimente as pessoas que estiverem olhando para você. Perguntar por direções simples, fazer um elogio inesperado ou oferecer ajuda para abrir uma porta, por exemplo, são ações para se praticar com outras pessoas. Acostume-se a conversar com os outros.

Desenvolva suas habilidades de conversação

Para manter uma boa conversa é preciso ter algo a dizer. Para você estar sempre bem informado e ter assuntos sobre os quais falar, leia jornais e revistas, ouça programas de rádio, além de acompanhar outros meios de comunicação. Entretanto, não seja um mero repetidor de informações, analise tudo que lê e ouve para poder emitir sua opinião sobre os assuntos. Para melhorar a interação, pergunte a opinião da pessoa com quem conversa.

Ensaie o que você vai falar

Antes de manter uma conversa com um novo cliente, por exemplo, prepare um script e treine a comunicação sozinho em frente ao espelho.

Pratique sempre o bem

Fazer boas ações é um jeito fácil de interagir socialmente. Você pode elogiar alguém ou se oferecer para pegar uma água para um colega de trabalho quando for buscar para você. Lembre-se de prestar atenção ao seu redor e interagir com as pessoas que também parecem tímidas, como aquele indivíduo que sempre almoça sozinho. É provável que ele também queira interagir com os outros, mas precisa de uma oportunidade.

Confie mais em você

O terceiro e muito importante passo para superar a timidez é colocar, de uma vez por todas, em sua cabeça que você é capaz. Como já foi mencionado, na maioria dos casos, as pessoas são tímidas por medo da rejeição, ou seja, porque confiam pouco em si mesmas e em suas capacidades. Então, é fundamental pensar coisas boas a seu respeito. Essa mudança, segundo Bernardo Carducci, não é fácil, porém ele indica seis estratégias para você mudar seu jeito de pensar a seu respeito.

1. Reduza seu sentido de autoconsciência

Entenda que o mundo todo não está olhando para você. As pessoas ao seu redor estão mais preocupadas em saber como estão agindo que observar você, por exemplo: imagine que você está dançando em uma festa. Os outros, que também estão se movimentando, estão mais interessados em saber como dançam que em observá-lo. E, muito provavelmente, as pessoas que estão sentadas em volta desejariam ter coragem para estar no meio da pista de dança, e não pensando em como você está dançando. Por isso, entender que as pessoas se importam mais com elas próprias ajudará você a interagir melhor.

2. Foque no seu sucesso social

Pare de cobrar tanto de você. As pessoas tímidas costumam exagerar nas críticas sobre si mesmas, principalmente em relação às suas performances em eventos sociais. Em vez de sempre achar que não agiu corretamente, enalteça suas forças e não foque apenas em suas fraquezas.

3. Evite exagerar nas generalizações

Não dê tanta importância aos erros que cometer. Os tímidos têm uma tendência a considerar os pontos negativos como se tudo estivesse ruim. Faça uma análise mais equilibrada para evitar as generalizações dos infortúnios e diminuir as responsabilidades que você tem sobre eles.

4. Evite o perfeccionismo

Ninguém é perfeito. Pare de exagerar em suas autocríticas. Seja mais realista em relação ao desempenho, pois suas piadas ou brincadeiras não precisam ser 100% engraçadas ou agradar a todos, mas podem divertir muitas pessoas. Sendo menos perfeccionista e mais realista, você reduz suas chances de achar que foi muito mal.

5. Aprenda a levar um “não” 

Ninguém é amado por todos. Rejeição é um dos riscos que acompanham as interações sociais. A chave para superar a timidez é não levar a rejeição para o lado pessoal. Existem muitas razões para alguém ser rejeitado, e, possivelmente, nenhuma delas tem a ver com você. Por exemplo: se numa tentativa de interagir com alguém essa pessoa não aceita, pode ser porque ela não gostou da forma como você está vestido ou está com pressa e precisa ir embora logo. Isso significa que, em algumas vezes, é possível controlar a reação dos outros, mas em outras não. O importante é que você não desista por causa de um “não”.

6. Encontre sua área confortável

Procure se sentir bem, pois nem todas as situações sociais são para todos. Prefira as que estão relacionadas com as suas características e interesses. Procurando situações em que se sinta mais confortável e confiante, será mais fácil controlar sua ansiedade e confiar em você. Mas, aos poucos e à medida que for se sentindo mais confiante, comece a experimentar novas experiências para praticar suas habilidades sociais em situações diferentes.

Busque ajuda

Em paralelo a todas as sugestões indicadas nesta matéria, você também pode buscar ajuda nas pessoas ao seu redor e em profissionais especializados. “Terapia, cursos de PNL – Programação Neurolinguística – e de teatro são formas de fortalecer a auto-estima, confiança e segurança, conscientizando-se de suas crenças limitantes e assim se abrindo para novas possibilidades”, aconselha Liamar Fernandes.

E lembre-se de que é possível evitar que a timidez seja um empecilho na busca de seus objetivos pessoais e profissionais. “Com autoconhecimento, determinação e apoio, tanto de um profissional especializado (psicólogo ou psiquiatra) quanto das pessoas que a cercam, uma pessoa pode deixar de ser tímida, pelo menos no grau de timidez e em aspectos que possam trazer sofrimento para ela”, avisa David Carlessi. Acompanhe cinco dicas para começar agora mesmo a superar sua timidez.

  1. Conscientize-se – Admita que a timidez tem atrapalhado seu desempenho pessoal ou profissional e que você precisa superar essas dificuldades.
  2. Conheça-se mais – Faça uma auto-análise para saber que tipo de tímido você é e como pode vencer seus obstáculos.
  3. Confie mais em você – Promova ações que façam você se sentir melhor. Cuide de sua imagem, vestindo-se bem e cuidando do seu físico.
  4. Treine – Procure formas de praticar sua desenvoltura nas situações em que se sente tímido.
  5. Seja mais otimista – Comece a ter mais pensamentos positivos para acreditar em suas capacidades e nas possibilidades de sucesso.

Depoimentos 

“Sou gerente de vendas na mesma empresa em que comecei a trabalhar como auxiliar de escritório. Meu comportamento tímido e pouco falante indicava que não levava jeito para vendas, mas lendo a revista VendaMais meu interesse pela área cresceu e comecei a planejar o futuro. Tendo meus objetivos claros, comecei a superar a timidez, freqüentando cursos e seminários. Cheguei onde queria antes do que imaginava, e se diziam que eu não levava jeito para ser vendedor, hoje falam que sou um dos melhores no que faço.”

Tierre dos Santos Reis

“Sou tímida em algumas situações, simplesmente me calo e se vou falar gaguejo e fico muito vermelha. Confesso que já fui muito mais e, atualmente, consigo apresentar alguns trabalhos na faculdade, por exemplo. Mas basta alguém perguntar alguma coisa que o vermelhão toma conta do meu rosto. Já perdi várias oportunidades de falar minhas idéias – outra pessoa fala e eu fico muito frustrada. No momento em que estou com meus amigos, não sinto esse medo, travo verdadeiros debates sobre vários assuntos.”

Sandra Gomes

Conteúdos Relacionados

Todo bom vendedor é um Masterchef

Todo bom vendedor é um Masterchef

Recentemente, num cruzeiro que fizemos pelo Caribe, tivemos a chance de participar de um “mini programa” do MasterChef no navio.

Algumas pessoas da plateia são escolhidas, recebem uma lista de ingredientes e precisam criar pratos com os ingredientes, apresentando-os depois para serem avaliados pelo júri (no caso, o capitão do navio e dois de seus assistentes).

Continuar lendo

Pin It on Pinterest

Rolar para cima