Um guia para a gestão em tempos de mudanças exponenciais

O viés da confirmação, conceito da psicologia econômica, defende a tese de que o ser humano tende a buscar respostas que confirmem o que ele já pensa sobre algo. Não importa se isso diz respeito ao seu candidato a presidente, à sua opinião sobre qualquer assunto que desperte visões diferentes ou à forma como gerencia a sua empresa e/ou a sua carteira de clientes. É da natureza humana. Nosso cérebro vai automaticamente buscar formas de confirmar o que acreditamos. 

Atente-se ao seguinte exemplo: se o seu modelo comercial sempre funcionou bem – e continua funcionando –, mas um membro do time apresenta uma proposta para fazer diferente do que você acredita e de tudo o que sempre foi feito, a tendência natural é que você ignore, questione e/ou rebata com argumentos favoráveis ao seu modelo. 

O viés da confirmação nos deixa cegos para enxergar o que contraria nossas crenças. Enquanto isso sempre é perigoso, se torna ainda mais grave em tempos em que a tecnologia impulsiona mudanças drásticas nos negócios e nos hábitos de consumo. Acompanhe esses exemplos: 

– Foram necessários 30 anos para que a eletricidade alcançasse 10% da população mundial. Esse mesmo nível de adoção (10%) foi alcançado em cinco anos pelo tablet.

– O telefone levou 39 anos para ter 40% de penetração no mercado. Smartphones alcançaram 40% de penetração em apenas 10 anos.

– O AI Index, criado pela Universidade de Stanford e pelo MIT, indica que, em apenas dois anos, sistemas de inteligência artificial se igualaram ou ultrapassaram a capacidade humana de reconhecer vozes e imagens.

– Um estudo das universidades Oxford e Yale aponta que, até 2024, a inteligência artificial deve ultrapassar a performance humana em atividades básicas e, até 2027, as máquinas irão traduzir idiomas e dirigir caminhões melhor do que nós.

Talvez a sua indústria (ainda) não tenha sido impactada por mudanças drásticas, mas até isso ocorrer (porque vai, cedo ou tarde), você prefere ser vítima do viés da confirmação ou fazer diferente? 

Buscando oferecer orientações a respeito do mundo atual e do que está por vir, Sandro Magaldi e José Salibi Neto escreveram Gestão do amanhã  tudo o que você precisa saber sobre gestão, inovação e liderança para vencer na 4ª Revolução Industrial. 

A obra apresenta os desafios da gestão em um mundo novo, tomado pela incerteza, pela disrupção e por movimentos inéditos que estão até mesmo questionando teorias e práticas de gestão consagradas. “A arrogância proveniente de quem sabe de tudo e traz em seu repertório a certeza das verdades absolutas constrói uma barreira quase intransponível para a invasão do novo, e convicções muito arraigadas têm um efeito perverso que favorece a manutenção do status quo”, avaliam os autores.

É preciso reaprender diariamente

Impulsionados por novas tecnologias e mudanças comportamentais nas relações humanas, novos modelos de negócio surgem e desafiam “regras incontestáveis”. “A chamada indústria da gestão não passa incólume a essas mudanças e é alvo do mesmo processo de paralisia: afinal, qual é o conhecimento que vai lidar com esse novo contexto? Os modelos de gestão até então soberanos dão conta das mudanças da modernidade? O conhecimento acadêmico está preparado para lidar com esse novo mundo?”, provocam os autores.

Diante de um contexto caracterizado por apresentar mais perguntas do que respostas, não há outro caminho a não ser repensar a gestão. “É o momento do desenvolvimento de um novo sistema de pensamento para lidar com essa complexidade de forma bem-sucedida. Replicar os modelos já existentes é sentença de morte certa. Da mesma forma que a atual revolução movimenta todos os fundamentos da sociedade, é necessário que o mundo da gestão responda a esse movimento realizando um bom diagnóstico das raízes desse novo ambiente, apontando quais são os modelos de gestão mais afinados com a nova era, os caminhos para a educação corporativa no desenvolvimento das competências necessárias aos colaboradores e o desenvolvimento de um novo perfil de liderança”, orientam.

Algumas empresas estão investindo em incubadoras de startups cujo objetivo é criar soluções para destruir seu próprio modelo de negócio, simplesmente porque é preciso fazer isso antes do que um concorrente faça. “A possibilidade do surgimento de novos competidores que dominem novas tecnologias é latente e são muitos os líderes corporativos que aguardam o mal anunciado”, profetizam os autores.

Esse é um elemento que caracteriza a gestão do amanhã. Não há mais terreno seguro. Nem mesmo para grandes impérios. A Ambev, por exemplo, criou a ZX Ventures, uma empresa pensada para desenvolver novos produtos e negócios que atendam novas necessidades. Conhecida como “a casinha”, a empresa reúne designers, programadores e empreendedores em um sobrado descolado perto da sede da Ambev em São Paulo. O objetivo é encontrar e/ou criar o próximo grande movimento da indústria cervejeira. De lá já saíram startups como a Zé Delivery, que é um sistema de entrega de bebidas baseado em geolocalização e que utiliza a enorme rede de distribuição da cervejaria. 

Ao perceber que as vendas de cerveja estão caindo porque os consumidores mais jovens querem beber menos e melhor, a maior empresa do ramo no mundo está comprando cervejarias artesanais no Brasil e nos Estados Unidos e busca formas de fazer parte do dia a dia de um consumidor que tem hábitos de consumo cada vez mais diferentes. No livro, essa e outras histórias que ilustram os efeitos práticos da transformação digital e comportamental e como as organizações estão tentando se adaptar sãocontadas em detalhes. 

O perfil do líder do amanhã

Outro ponto fundamental a respeito do futuro da gestão é a liderança. 

Afinal, se nada é como antes, qual é o papel do líder do amanhã? Como se preparar para algo que nem sabemos ao certo o que é e como se desenrolará? 

Para os autores de Gestão do Amanhã, o novo líder é um conector que absorve novos conhecimentos acerca desse mundo novo dia após dia. “A velocidade das mudanças é feroz e não acompanhá-la equivale a dizer adeus ao disputado espaço destinado àqueles que liderarão a transformação. Não basta, no entanto, estudar. É necessário colocar em prática todo esse conhecimento experimentando e validando novas teses. Quando o líder deve parar de fazer perguntas? Nunca, visto que, no mundo em transformação, as respostas são sempre transitórias”, orientam.​

Para isso, é preciso desenvolver uma cultura organizacional baseada na inquietude, na curiosidade. Fazer mais, de forma diferente, ter tolerância ao erro e apetite ao risco são características da gestão do amanhã. “É necessário, porém, sair do conforto dos silos e dos espaços de domínio para absorver novos conteúdos, novos conhecimentos, novas possibilidades. O líder conector é inteligente e possui bastante repertório, mas não é só isso. Também se dedica à execução disciplinada dos projetos em que se envolve. Não basta ter a ideia. É necessário executá-la com excelência. Para isso, pratica a colaboração, a experimentação e o empreendedorismo na organização, engajando todos os colaboradores no mesmo propósito”,apontam.

Os dois motores de crescimento que impulsionam a gestão do amanhã

Uma das dicas práticas apresentadas por Magaldi e Salibi Neto para conduzir a gestão do amanhã é desenvolver dois motores de crescimento para a empresa. Enquanto o primeiro é orientado a garantir os resultados no curto prazo, o segundo tem o objetivo de criar as bases para destruir o seu modelo atual – o que pode parecer perverso, mas antes você do que um concorrente, certo?

Os especialistas explicam que esses motores demandam abordagens distintas muito específicas. “No motor 1, são necessários muita disciplina, melhoria contínua nos processos e monitoramento constante na redução de riscos para a operação, sobretudo os financeiros. No motor 2, são requeridos uma gestão baseada na agilidade, maior propensão ao risco, originalidade e uma estrutura financeira específica, visto que o retorno sobre o investimento sempre será em longo prazo e existe a clara perspectiva da perda de recursos em apostas que não darão certo e deverão ser descontinuadas”, explicam.

Porém, enquanto a teoria faz sentido para criar uma fortaleza em um mundo incerto, na prática ela é desafiadora e apresenta um risco comportamental muito atrelado ao viés da confirmação. “Com receio de mudanças e tendência à manutenção do status quo, os líderes da organização podem ficar presos a suas crenças e zona de conforto e sabotar o crescimento de estratégias mais disruptivas. Algumas empresas, com receio de retirar seus melhores talentos da linha de execução no curto prazo, tendem a alocar, para as iniciativas orientadas ao futuro, profissionais secundários. Essa definição estratégica diz muito mais do que qualquer discurso de um CEO valorizando os novos projetos da empresa. Ações dizem muito mais do que palavras”, alertam.

Estamos diante de uma história a ser escrita

É provável que você termine a leitura de Gestão do amanhã com mais perguntas do que respostas. Afinal, essa é a característica dos tempos atuais. Porém, também fechará o livro com uma boa noção sobre para onde estamos indo em termos de tecnologia, sociedade, comportamento e gestão. É uma leitura provocante, reflexiva e que inspira mudanças. 

Diante de tantos desafios e incertezas não existem fórmulas ou receitas para o sucesso. Cada empresa precisará (re)escrever a sua própria. Para isso, é fundamental estar disposto a se contradizer, quebrar paradigmas e fazer do aprendizado um exercício de rotina. “Não existe manual de instruções, visto que seu funcionamento está sendo construído de acordo com o uso. É um sistema aberto que evolui de acordo com as interações com o meio. Em contrapartida, por mais clichê que possa parecer, se em um cenário de incertezas repousam imensos desafios, o fato é que as oportunidades têm a mesma dimensão”, finalizam.

Para saber mais

  • Livro: Gestão do amanhã – Tudo o que você precisa saber sobre gestão, inovação e liderança para vencer na 4ª Revolução Industrial
  • Autores: Sandro Magaldi e José Salibi Neto
  • Editora: Gente
  • Número de páginas: 256

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