Entrevista com Flávio Peralta

Livros do Flávio PeraltaQuando acordarem, logo cedo, se lembrem de dar um abraço e de dizer bom dia a quem está ao seu lado. Esse contato é de graça e pode salvar uma vida. Digo em minha palestra que fui abraçar meu filho somente quando ele estava com oito meses de vida. Esse é um momento de muita comoção para os ouvintes, que se emocionam e ficam pensando em seus filhos e familiares. Eu não agi com segurança e perdi os dois braços, mas é possível evitar vários acidentes agindo com segurança no trabalho sempre.

Sobre o que tratam, exatamente, seus livros Amputados vencedores – Porque a vida continua e Os Peralta? Qual é a grande mensagem que eles podem transmitir aos leitores?

Desde que resolvemos iniciar o site www.amputadosvencedores.com.br, rece­bemos inúmeros relatos de/ou sobre pessoas que sofreram amputações. Além disso, estudantes de diferentes especialidades nos perguntavam sobre uma eventual bibliografia sobre o tema. Foi então que uma ideia nasceu em nosso coração: escrever um livro para mostrar que existe vida e felicidade após uma amputação. É sobre minha experiência pessoal que trata este livro: a de um rapaz de 29 anos que, inesperadamente, se vê diante da morte, sem os dois bra­ços, e decide lutar pela vida.

Procuramos retratar o meu sofrimen­to e o de meus pais, ao decidirem pela amputação, as dificuldades e os desafios, o processo de recuperação e adaptação familiar e, finalmente, a superação, os desafios de me casar e de me tornar pai. Em algumas ocasiões, chego a me esquecer de que não tenho os braços; quando, por exemplo, em uma palestra, tenho a oportunidade de falar sobre segurança no trabalho e prevenção de aciden­tes e motivar as pessoas a enfrenta­rem os desafios que surgem a cada dia. Parece que, hoje, nessa condição, sei enfrentar melhor os desafios da vida. O livro foi lançado em 2010 pela editora Conex, Grupo Nobel.

Um ano se passou desde o lançamento e os acidentes de moto se multiplicaram pelo País. Empresas começaram a solicitar palestras sobre esse tema e tivemos a ideia de escrever o livro Os Peralta. Nesse livro, Jane Peralta, minha esposa, conta que sofreu um acidente de moto aos 13 anos de idade, no ano de 1981. Ela usava a moto para se locomover e cruzou uma preferencial na volta para casa. Ficou com sequelas graves e conta em detalhes essa experiência. Além disso, mostramos a constituição da família Peralta, quando nos conhecemos em 1999. Nós não desistimos de viver e acreditamos no amor e na fé. Encontramos nesse livro palavras que nos inspiram a não desistir de encontrar um grande amor e acreditar no poder da família. Nos casamos, nos tornamos pais e constituímos a família Peralta, composta por Flávio, Jane e Vinicius Peralta. O livro foi lançado neste ano e patrocinado pelo Amputados Vencedores.

Como você começou como palestrante?

De 1997 até 2001 eu era um anônimo na multidão. Apenas mais um na estatística que ficou inválido por causa de um acidente de trabalho. Quando me casei, em 2001, eu ganhei uma esposa e, com ela, um computador. Eu nunca havia digitado uma tecla sequer. Só sabia datilografar. Enquanto ela saía para trabalhar (tinha três empregos, na época) eu ficava em casa. Já sabia de cor todas as novelas e filmes. Um dia ela resolveu colocar um anúncio no jornal, procurando por um professor de web para mim. Como ela sabia que eu tinha muita resistência a pessoas novas em minha vida, me contou somente depois que já havia encontrado o tal professor. Concordei em aprender e tínhamos aula toda semana. Aos poucos a ideia do livro foi surgindo. Nasceu, então, o Amputados vencedores. Eu não queria que as pessoas sofressem como eu sofri ao colocar uma prótese. Um dia eu recebi um telefonema do técnico em segurança do trabalho de Curitiba (PR), Amilton Antunes. Um amigo do Sintespar, Adir de Souza, indicou meu nome para ele, pois procuravam por um sobrevivente brasileiro de acidente de trabalho que contasse sua história em um evento da empresa. Amilton me ligou quatro vezes e eu recusei o convite. Somente depois ele falou com minha esposa, a qual me convenceu a ir para Curitiba. Quase desmaiei para falar por um minuto. Saí correndo da sala e voltei para concluir a missão. Foi então que as coisas foram surgindo e hoje já ministrei mais de 495 palestras pelo Brasil.

Que tipo de empresas geralmente contratam seu serviços? O que elas buscam em suas palavras?

Diversas empresas me procuram, de pequeno, médio e grande portes. Nacionais e multinacionais. Onde houver um dirigente consciente e uma equipe determinada a lutar pela segurança do trabalho ou com pretensão de motivar a equipe para a área de vendas, servindo de motivação e superação para os vendedores, eu sou convidado a dividir minha história. O objetivo central é alertar o trabalhador tanto para a importância da segurança do trabalho quanto para a motivação e a superação de obstáculos diários. Para isso, eu inicio a palestra falando sobre o dia do meu acidente, relato minha recuperação física e revelo os erros que cometi (atos e condições inseguros). Após a palestra, recebo o feedback positivo da empresa sobre minha apresentação e também nos comentários dos participantes após a palestra. É importante ensinar através da experiência de outra pessoa.Veja alguns depoimentos de clientes:

“Nós evoluímos como seres humanos através de nossas experiências! Procuramos ser diferentes, inteligentes, com o que sabemos. Buscamos o aperfeiçoamento hoje, para melhorarmos o nosso amanhã. Flávio Peralta possui a capacidade de transformar as adversidades que a vida lhe reservou em oportunidades de melhorar o futuro dos seus semelhantes, pois, com o compartilhamento de sua trágica experiência, tem alertado a todos sobre as questões dos acidentes de trabalho e suas dolorosas consequências. Somos muito gratos a ele e sua esposa por terem compartilhado suas experiências em nossos eventos, como SIPAT e no Workshop – HSE Leadership.

Flávio, continue firme em seus projetos. Obrigado!” 

Amilton J. Antunes – Técnico em segurança do trabalho, de Curitiba (PR)

“Flávio Peralta, obrigado por participar conosco em nossos aprendizados em SMS, contando sua experiência e nos emocionando com sua história de vida. Importante ressaltar que essa mesma história levou várias pessoas (mais de 500) à reflexão do quanto temos considerado importante a responsabilidade conosco e com todos à nossa volta. Nossa intenção era enfatizar o quanto a nossa vida é valiosa e que os acidentes acontecem não apenas com os outros, pois acidentes não fazem distinção de pessoas, mas, sim, de atitudes. A ênfase em trabalhar com prevenção está dentro do dia a dia da segurança do trabalho. Temos a certeza de que você faz a diferença em nossas vidas e com o site www.amputadosvencedores.com.br.”

Sandra R. Cuzati Martins e equipe – Unidade RECAP – Petrobrás SMS 

“O que dizer sobre Flavio Peralta? Uma pessoa que teve um dos maiores desafios da vida em sua própria história. O desafio de viver sem o toque. Toque físico apenas, pois se existe uma pessoa no mundo que possui conhecimento e experiência para tocar verdadeiramente as pessoas, essa pessoa é ele.

Sua história de vida não é apenas um exemplo ou algo motivacional para nossas vidas, mas, sim, uma prova de que conseguimos quebrar as barreiras e os limites mais inimagináveis impostos aos seres humanos. Um limite no qual a mente desafia o corpo a acreditar na sua possibilidade, um limite no qual o corpo afronta a imaginação, um limite que faz jus à frase: ‘Se dá para imaginar, dá para fazer’.

Um limite no qual não existe limites para continuar a tentar cada dia mais.

Deveríamos agradecer a oportunidade de conhecer alguém como o Flávio, simples, acessível e disposto. Disposto a mostrar que com essa simplicidade que ele mesmo leva a vida podemos resolver os problemas pontuais e contínuos mais complexos de nossa existência. Problemas ou dificuldades são apenas oportunidades lançadas em nossos caminhos para serem transformadas nas maravilhas que o mundo possui, chamadas seres humanos!”

Cirilo Martinho – Gerente industrial MQA – Londrina (PR)

Por outro lado, que tipo de evento ou treinamento não é adequado para você? Ou seja, que tipo de problemas, situações ou treinamentos você geralmente prefere não aceitar ou repassar para algum colega?

Desde que iniciei minha carreira como palestrante, não recebi nenhum convite que não fosse possível de ser atendido. O que pode acontecer é eu estar com a agenda cheia e recusar o convite. Nesses casos, eu indico amigos palestrantes. Nessa profissão, essa é uma troca muito saudável e que propicia crescimento profissional.

Qual é o seu diferencial em relação a outros palestrantes? Qual é a sua “marca registrada”?

Meu diferencial consiste em ter a história de um acidente de trabalho, um choque elétrico de 13.800 volts que me levou à amputação dos dois braços. Além disso, me preparei muito para poder narrar minha experiência com capacidade técnica e habilidade para expor isso em um palco. Muitos possuem histórias, mas não a habilidade e a desenvoltura para encarar uma plateia, principalmente narrando uma história cercada de emoções. É preciso ter maturidade para fazer isso. Certa vez, ministrei uma palestra para 3.500 pessoas de uma única vez. Todos me ouviram atentos e quietos. O silêncio reinava naquele lugar e fiquei muito feliz com isso. Percebi que com minhas palestras poderia mudar a vida de muitas pessoas. Também existem três produtos que nossa empresa fornece aos contratantes: a cartilha Vamos praticar segurança do trabalho, lançada em 2008, com imagens e textos sobre as questões da segurança do trabalho, o livro Amputados vencedores – Porque a vida continua, lançado em 2010 pela editora Conex, grupo Nobel, de minha autoria, e o livro Os Peralta, lançado em 2012, com patrocínio da empresa Amputados Vencedores Palestras e Treinamentos Ltda. Nosso próximo objetivo é atuar com palestras no mundo de vendas, pois percebi que para ser um vendedor é preciso estar sempre motivado (e encontramos motivação na vida daqueles que superam os desafios) e que também sou um vendedor: vendedor da minha própria história.

Além do seu próprio site (www.amputadosvencedores.com.br), que outros endereços da área você recomenda para quem quer se aprofundar no assunto?

O site www.amputadosvencedores.com.br aborda dois assuntos: deficiência/amputação e segurança do trabalho. Além dele, existem diversos sites direcionados para a área da deficiência e amputação, podemos citar: a deputada federal Mara Gabrilli, os sites Blog Ser Lesado, Deficiente Ciente, Passo Firme, etc.

Quais são seus livros de negócios ou autores preferidos? Existe algum trabalho de algum autor ou consultor nacional que mais chame sua atenção?

Leio bastante e admiro muitos escritores. Posso citar Oportunidades disfarçadas, de Carlos Domingos; Sete vidas, do palestrante Tom Coelho; e o palestrante Raúl Candeloro, grande exemplo e que nos apoia sempre.

Qual foi a sua palestra mais memorável, a que mais lhe marcou? 

Fiz uma palestra em uma empresa no interior de São Paulo e um ano depois eu recebi um e-mail de uma jovem, com os seguintes dizeres:

“Não sei qual é a sua religião, mas creio que Deus tem um plano traçado para você, porque para mim Deus o usou na hora certa, falando do abraço de seu filho, pois fui criada de uma maneira que nunca me proporcionou um abraço de pai e este nunca foi um verdadeiro pai. Você está entendendo o que eu quero dizer?

Minha mãe nunca demonstrou afeto por mim e por meus irmãos, por meio de abraços e beijos. Foi uma criação muito difícil. Não da parte de minha mãe, mas, sim, da parte de meu pai. Então, no último dia da SIPAT, eu confesso: achei que sua palestra seria uma chatice… mas quando você falou do choque que levou e de seu casamento, Deus tocou de uma maneira muito forte e especial em meu coração, por isso estou enviando este DVD e estes dois CDS, um com louvores e outro de motivação, pois eles se identificam muito com você.

Flávio, aquela palestra foi a melhor dos cinco dias de SIPAT para mim. No domingo fui à casa de minha mãe, lhe pedi a benção e, pela primeira vez em 31 anos, criei coragem, me inspirei na sua palestra e dei um beijo e um abraço nela. Algo que eu não tinha coragem de fazer quando era mais nova.

Poxa vida, ela mora tão perto de mim e eu tenho os dois braços normais, graças a Deus. Não sei explicar, mas até minha mãe ficou sem jeito por eu nunca ter feito isso antes.

 Um beijo em seu coração, no seu filhinho e na sua esposa, mulher batalhadora, guerreira, a qual o Senhor preparou para você.

Fiquem todos com Deus, nas suas bênçãos e obrigada pela atenção.”

Com certeza esse foi um resultado que eu não esperava. Mas fiquei muito feliz ao saber dessa história e considero esta a palestra mais memorável que fiz: convencer uma filha a dar o primeiro beijo em sua mãe e fazê-la ver que a vida tem valor. Foi sensacional.

Qual foi a situação mais desastrosa ou engraçada que já aconteceu em uma das suas palestras ou eventos?

A mais difícil foi em uma multinacional, em 2011. Eu havia sido convidado para fazer 15 palestras em três dias e na penúltima delas aconteceu algo que eu não esperava. Meu assessor estava de costas para mim, guardando os equipamentos e não viu a cena. Um trabalhador chegou até mim e começou a chorar compulsivamente. Me abraçou e eu chamei meu assessor para me dar apoio, nos sentamos e ele começou a explicar o que havia acontecido: um acidente há alguns meses, no qual ele estava próximo à máquina de um amigo, de repente, ele viu o amigo ser tragado pelo rolo compressor; rapidamente, correu até a chave de força, desligou a máquina e chamou o Corpo de Bombeiros. Ficou ali, todo o tempo dando apoio à vítima e presenciou tudo, até mesmo a retirada do braço do colega que ficara preso no rolo. Ficou claro que ele não havia superado aquilo e seu choro revelou a dor de um colega que lastimou tudo que aconteceu. Coube a mim consolá-lo e dizer que a vida continua para ambos. Seu colega conseguiu ter o braço reimplantado e ainda está afastado da empresa. Foi a situação mais difícil que enfrentei em cinco anos como palestrante.

Além desse caso, outro que me deixou desconcertado foi o desmaio de um gerente de uma empresa de grande porte, durante uma palestra. Todos ficaram atônitos e assustados e eu tive de me recompor para concluir a palestra.

Qual é o maior erro que você nota nas convenções ou nos treinamentos de empresas?

Quando vou a um evento, fico observando as pessoas e percebo que elas poderiam aproveitar aquele espaço para trocar experiências, ideias ou apenas se conhecerem. Eu e Jane fazemos muito isso. Queremos conversar com as pessoas, nos apresentar, conhecer as histórias de quem está ali naquele momento que pode ser tão proveitoso para novas oportunidades, mas percebo que as pessoas sentam em seus lugares e conversam muito pouco com os demais participantes. Poderiam aproveitar muito mais fazendo networking.

Por que você acha que tantas reuniões e tantos treinamentos são chatos ou improdutivos? O que poderia ser feito para melhorar isso?

Palestras somente técnicas se tornam cansativas. As pessoas querem ouvir palavras que transmitam sentimentos e experiências de vida, juntamente a aspectos técnicos. Quando se cria um clima de emoção, tudo fica diferente. Pode-se também inovar com o riso e com situações de alegria. Grupos teatrais podem oferecer momentos de reflexão e de descontração.

Que grande conselho ou dica você daria para alguém que deseja melhorar resultados no trabalho e/ou na vida?

Muita leitura. Ser bastante curioso e utilizar as ferramentas das redes sociais com bastante sabedoria. É preciso ter um marketing pessoal presente, otimismo e persistência em tudo que fizer. Os obstáculos virão, mas não podemos desistir de lutar.

Gostaria de deixar um último recado aos nossos leitores?

Quando acordarem, logo cedo, se lembrem de dar um abraço e de dizer bom dia a quem está ao seu lado. Esse contato é de graça e pode salvar uma vida. Digo em minha palestra que fui abraçar meu filho somente quando ele estava com oito meses de vida. Esse é um momento de muita comoção para os ouvintes, que se emocionam e ficam pensando em seus filhos e familiares. Eu não agi com segurança e perdi os dois braços, mas é possível evitar vários acidentes agindo com segurança do trabalho sempre.

Site: www.amputadosvencedores.com.br
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Flávio Peralta é idealizador do site Amputados Vencedores e palestrante na área de segurança do trabalho, motivação e superação. Em 1997, sofreu um acidente de trabalho e perdeu os dois braços. Depois de superar o acidente, criou o site em 2001 para ajudar pessoas no País e no mundo e, a partir de 2007, passou a ministrar palestras pelo Brasil, para alertar os trabalhadores sobre a importância das normas de segurança do trabalho, levando-os a refletir sobre o significado de um acidente de trabalho.

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