Entrevista com Allan Costa: para inovar, cultura organizacional é mais importante que tecnologia

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Quando se fala em inovação, é comum associar ao uso de tecnologia e técnicas superavançadas. No entanto, ideias diferentes e ferramentas de ponta não são nada sem uma cultura voltada à inovação e profissionais de alta performance, com a mentalidade certa. É o que garante Allan Costa, palestrante e consultor nas áreas de empreendedorismo e gestão e autor do livro 60 dias em Harvard.

Hoje, a única fonte de vantagem competitiva verdadeiramente sustentável no longo prazo é a cultura organizacional, porque é a única coisa que não pode ser copiada. Quando olhamos para empresas de extremo sucesso e que usam tecnologia intensamente, percebemos que essa tecnologia não tem nada, na sua essência, de inovadora. Inovador é o uso que se faz dessa tecnologia“, destaca o especialista.

Confira a seguir a entrevista concedida por Costa a Raul Candeloro, diretor da VendaMais e especialista em alta performance em vendas, e aprenda mais sobre como inovar de maneira eficiente e como criar um modelo mental correto para alcançar a alta performance na carreira e nas organizações.

Raul Candeloro – Fale um pouco mais sobre 60 dias em Harvard. Sobre o que trata o livro e por que você o escreveu?

tecnologiaAllan Costa – 60 Dias em Harvard foi um livro que nasceu pelo avesso. Quando estive em Boston, em 2010, cursando o AMP (Advanced Management Program), produzi um blog cujo intuito era compartilhar o cotidiano do curso, suas lições aprendidas, aulas, experiências. Para mim, ele funcionava como mecanismo de reflexão e fixação do conteúdo.

Desde que retornei com o diploma na mão, percebo a diferença que essa experiência fez na minha vida, tanto pessoal quanto profissional. E continua assim até hoje. Tanto é que passei a pensar em como possibilitar que mais pessoas tivessem acesso a esse conteúdo. Então, decidi reorganizar o blog e transformá-lo em um e-book, que seria distribuído gratuitamente pelo meu site.

Quando anunciei em redes sociais que o e-book estava disponível para download, choveram pedidos pela versão impressa. E, assim, com dois capítulos adicionais que escrevi como conteúdo extra, nasceu o livro, de maneira totalmente imprevista. Seu propósito é proporcionar ao maior número possível de pessoas, ao menos parte da experiência de cursar um AMP na Harvard Business School.

Vi no seu site que você tem vários temas de palestras. Como falo muito sobre alta performance, gostei especialmente do tema “Faça acontecer”. Pode dar um resumo dos principais pontos dessa palestra?

Na Palestra “A Arte de Fazer Acontecer”, abordo o tema sob duas perspectivas:

  • A primeira trata dos aspectos conceituais e das técnicas necessárias para a criação do que eu chamo de uma cultura organizacional de execução.

cultura x tecnologia

Hoje, a única fonte de vantagem competitiva verdadeiramente sustentável no longo prazo é a cultura organizacional, porque é a única coisa que não pode ser copiada. Os tempos em que tecnologia constituía diferencial competitivo ficaram para trás. Tecnologia tornou-se uma commodity, amplamente disponível para todos que desejem ter acesso a ela.

Quando olhamos para empresas de extremo sucesso e que usam tecnologia intensamente, percebemos que essa tecnologia não tem nada, na sua essência, de inovadora. Inovador é o uso que se faz dessa tecnologia.

  • E aí chegamos à segunda perspectiva, que trata do aspecto mais essencial de qualquer processo de construção de vantagem competitiva ou de ampliação da capacidade de execução de uma empresa, que é o ser humano.

Abordo os modelos mentais necessários a esse novo mundo baseado em velocidade e interconexão, e convido os participantes a refletirem acerca da essência do que pode tornar possível alavancar de forma significativa sua capacidade de transformar seus negócios e suas próprias vidas.

Você poderia nos dar um exemplo prático extraído da palestra que exemplifique melhor seus principais conceitos?

Um dos exemplos que uso é o da Tesla Motors e de Elon Musk. Em alguns anos, ele criou uma empresa que, embora produza anualmente pouco mais de 1% do volume de carros produzidos pela Ford, tem valor de mercado maior que a tradicional montadora americana.

E, ao mesmo tempo em que obtém esse sucesso extraordinário, ele abre as patentes de seus carros elétricos na Internet e obriga seus engenheiros a voltarem à estaca zero. Esse é um exemplo concreto do tipo de prática e modelo mental necessário para dotar organizações de uma capacidade de execução ímpar:

Não acomodação, permanente busca pelo novo e melhor, e desafio constante com foco nas necessidades presentes, e, principalmente, futuras do mercado. Melhor ainda, se nós conseguimos não apenas ler, mas criar tais necessidades.

Quais são os erros mais comuns que você vê as empresas e as pessoas cometendo em relação a essas questões?

  • Dificuldade de questionar as próprias escolhas de maneira constante.
  • Acreditar no poder das ideias, sem perceber que ideias não têm valor nenhum e que o que conta é a capacidade de tornar tais ideias realidade concreta.
  • Incapacidade de errar rápido e barato, já que inovação e execução primorosa exigem correr riscos e tentar o novo.
  • E a famigerada “morte por sucesso”.

Dessa lista de erros, qual você considera o mais grave? Por quê?

A morte por sucesso.

Quando uma empresa ou profissional tem sucesso, inquestionavelmente, esse sucesso é fruto de coisas que foram muito bem-feitas. O problema é que, pela natureza humana, que é orientada à segurança, muitas pessoas e empresas se apegam a essas práticas de uma maneira que eu chamo de dinamicamente conservadora.

O raciocínio é simples (embora equivocado): se fiz isso e deu certo, é só continuar fazendo que vai continuar dando certo. E o ponto cruel é que o verdadeiro é exatamente o oposto.

A única certeza possível, se uma empresa ou profissional de sucesso continuam fazendo de forma contínua aquilo que trouxe sucesso, é que em pouco tempo o sucesso irá acabar e a posição de liderança será ocupada por outras empresas e profissionais mais capazes de correr os riscos inerentes ao processo de inovação e de executar de forma magistral.

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Imagine um empresário ou vendedor procurando melhorar seus resultados nessa área. Por onde começar? De maneira sucinta e objetiva, quais as principais recomendações?

Desenvolva um grau de paranoia saudável. Avalie de forma sincera e honesta o modelo mental vigente. Esse modelo mental é o que determina a forma como enxergamos o mundo e nos relacionamos com ele.

Um empresário ou vendedor que se acomoda dentro da sua zona de conforto caminha inexoravelmente para o fracasso. É preciso ter disposição de aprender e ser obsessivo pela transformação de todo aprendizado em prática concreta.

Falando um pouco do seu trabalho como consultor e palestrante agora. Que tipo de empresa geralmente contrata seus serviços? O que buscam?

Hoje, através das palestras, workshops e consultorias que minha empresa oferece atendo médias e grandes empresas, de vários segmentos, em todo o Brasil, além de startups que muitas vezes têm investimento dos grupos de investidores-anjo dos quais participo.

tecnologiaNo segmento de palestras, meus clientes procuram, em geral, coerência entre discurso e ação (ensinar aquilo que praticamos), sincronia entre teoria e prática (transmitir aquilo que viveu, e não apenas o que leu nos livros), e esperam que o resultado seja algum tipo de processo de transformação.

No caso de consultoria, elas buscam visões alternativas e eminentemente inovadoras, que tragam provocação e proporcionem questionamentos que permitam enxergar visões alternativas em sintonia com o que está acontecendo – e ainda vai acontecer – no mundo.

Por outro lado, que tipo de treinamento/consultoria não é adequado para você? Ou seja, que tipo de problemas/situações você geralmente prefere não aceitar ou indicar para algum colega?

Qualquer coisa que saia das áreas em que tenho relativo domínio e nas quais acredito que posso entregar contribuição efetiva. Por exemplo, nunca atuei na área comercial. Assim, se recebo pedidos para capacitar vendedores em técnicas de vendas, normalmente encaminho a colegas de confiança que eu saiba que poderão entregar um resultado muito melhor do que eu entregaria.

Qual é o seu diferencial em relação a outros consultores? Qual é sua “marca registrada”?

Me posiciono como um palestrante e consultor que tem como diferencial falar do que fez e faz, e não apenas do que aprendeu nos livros; um profissional com uma formação muito consistente em escolas de primeira linha, o que dá sustentação ao que transmito; e, principalmente, alguém que sempre procurará falar tanto ao cérebro quanto ao coração das pessoas, de forma simples, direta e sem papas na língua.

As técnicas e teorias são necessárias para convencer, a partir de argumentos, que algum processo de transformação é necessário. Mas engajamento e comprometimento só são obtidos quando conectamos a lógica com aspectos emocionais de cada uma das pessoas com as quais interagimos e que serão os atores principais de qualquer processo de mudança.

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Com tanta experiência na de gestão, quais dicas ou informações você vê sendo dadas pela mídia sobre esse assunto com as quais claramente não concorda?

A mídia muitas vezes vive de modismos. E hoje vivemos uma época em que parece que o empreendedorismo virou a salvação de um mundo em que ou você empreende o seu próprio negócio, ou é um fracassado.

Sou muito crítico desse modismo, porque ele leva pessoas a acreditarem em contos de fada que não correspondem à realidade. Empreender é fantástico, mas não é para todo mundo! É preciso tratar do tema de forma mais responsável.

É possível, sim, que qualquer pessoa se torne se mais empreendedora, uma vez que o comportamento empreendedor é uma escolha e sua adoção pode ser aprendida e desenvolvida. Mas isso é diferente de empreender em um negócio, com os riscos, inconstâncias e imprevisibilidades inerentes. É plenamente possível desenvolver uma belíssima e bem-sucedida carreira empreendedora em empresas já constituídas. Mas temos falado muito pouco sobre isso.

Algum último comentário que queira fazer para os leitores da VendaMais?

A mais difícil das conquistas, quando falamos sobre A Arte de Fazer Acontecer, é a conquista interior. Transformar as próprias convicções, ampliar as próprias referências e se abrir para novas perspectivas e realidades é a forma mais rápida de promover transformação efetiva.

Seja numa microempresa, seja em uma mega-corporação, o fator humano ainda é o mais importante e o que faz a diferença entre empresas e carreiras extraordinárias e aquelas que, no máximo, tornam-se medianas.

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