Cool hunting: Carl Rohde explica como alavancar seu negócio usando tendências

Cool hunting: Carl Rohde

Saber o que os consumidores irão demandar nos próximos anos não é apenas uma curiosidade, mas uma vantagem competitiva. Quem sabe antes o que seus clientes desejam comprar, tem dicas preciosas para saber onde investir tempo, energia e dinheiro. É para isso que servem as | tendências. E pode ter certeza que nesse exato minuto tem milhares de pessoas pesquisando e criando algo que fará você querer consumir.

Carl Rohde é sociólogo e antropólogo holandês. Conhecido como uma das principais referências atuais sobre comportamento de consumo e análise de tendências, popularmente conhecido como cool hunting. Cool hunting é um termo proveniente do marketing. Sua função é observar as pessoas e o mundo, para posteriormente definir novas tendências. Reúne o desafio de entender e conhecer o comportamento dos consumidores e criar e sanar necessidades.

Na última semana, Rohde esteve no Brasil dando uma palestra sobre o uso da tecnologia e das redes sociais na vida das pessoas. Abordou chatbots, drones e outras tendências de tecnologia. Destacou a influência dos Millenials na mudança de comportamento do consumo pelas marcas e como as novas empresas – startups – estão alterando os hábitos de consumo. E o diretor da VendaMais Raul Candeloro aproveitou a oportunidade para entrevistá-lo.

Coll hunting: use as tendências a seu favor

Fale um pouco sobre seu trabalho. Como começou essa sua jornada no cool hunting?

É até uma história engraçada, comecei há cerca de 40 anos como sociólogo cultural. Minha dissertação foi sobre como era a mentalidade durante a Idade Média até o período do Renascentismo, entre os séculos XV e XVII. E, então, meu orientador disse que se eu tinha uma metodologia para mapear a mentalidade naquela época, deveria tentar aplicá-la, para projetar a mentalidade dos dias de hoje para o futuro. Eu achei um desafio interessante, entendi que devia parar de analisar pinturas medievais que retratavam a “madona” (Virgem Maria) para analisar a nova Madonna (cantora). Desde então escrevi alguns ensaios que foram publicados e premiados na Holanda e fora do país. Comecei a ficar conhecido e receber convites para palestras e conferências. Foi quando me nomearam como um trendwatcher (observador de tendências).

No início não gostei da nova nomenclatura, porque “sociólogo cultural” era um termo mais elegante e acadêmico. Mas me disseram que eu ganharia mais dinheiro, então tive que aprender a lidar com isso. Há 20 anos, um professor me pediu para analisar tendências, como jovens jogadoras de tênis e eletrônicos. Foi então que percebi que, mesmo sendo temas que tinham nada a ver comigo, seriam interessantes objetos para eu desenvolver minha metodologia. Fazendo um grande sucesso naquela oportunidade, foi nomeada de cool hunting pelo mesmo professor. Recebi um dinheiro por isso, que utilizei para me aproximar de universidades e estudantes e formar minha rede de pesquisadores. Hoje, é conhecida por ser uma metodologia bem compreensível, que tem grupos diferentes de pesquisadores, em cada país, procurando, observando e debatendo o que há de novo na sociedade, com o objetivo de antecipar e validar tendências.

Em sua passagem pelo Brasil você abordou 4 assuntos que nos interessam muito na VendaMais: Uso da tecnologia e das redes sociais na vida das pessoas; chatbots, drones e outras tendências de tecnologia; a influência dos Millenials na mudança de comportamento do consumo pelas marcas; e como as novas empresas – startups – estão alterando os hábitos de consumo. Pode resumir brevemente os principais pontos que acha que vale ressaltar sobre cada um desses temas?

O auge das startups já foi. O poder de mudar o mundo agora está na inteligência artificial, na cloud computing, na internet das coisas. Tudo isso está concentrado nas mãos das grandes empresas como Facebook, Google, Baidu, etc. Então, as startups precisam se alinhar com os grandes para se tornarem um sucesso, se tiverem algo para acrescentar para os grandes, tornando possível que os adquiram e absorvam a inovação. Se você quer se tornar o próximo Google – e isso pode acontecer como pudemos ver com o Snapchat – há uma grande chance deles desejarem comprá-lo. Mas é mais seguro para as startups fazerem algo inteligente e criativo que aumentem as chances de ser adquirido por um grande. A filosofia de startup de garagem acabou. A menos que você não seja uma empresa de tecnologia, seja mais focada em criatividade humana, empatia e hospitalidade, off-line.

Isso não quer dizer que elas não possam fazer coisas incríveis e fantásticas. Todas as startups agora estão fazendo aplicativos e isso é tedioso. Isso não é mais criativo. Claro que existem chances, se você tiver uma ideia brilhante. Mas você estará competindo com toda a ICT Alliance e todas as startups do mundo que estão trabalhando com aplicativos. É muito arriscado. O modelo de garagem, do pensamento: “Eu sou incrível, vou colocar meus amigos em uma garagem e fazer coisas brilhantes”, não funciona mais. Os problemas do mundo são muito grandes para eles. O problema agora é o aperfeiçoamento humano.

É muito difícil competir com o Uber, por exemplo, com um aplicativo. É muito difícil competir com o Google com um sistema de busca. É muito difícil competir com o Facebook com uma rede social. Não é impossível, mas se você pensa que é isso que vai fazer, você está bem atrasado. Isso significa que você está empreendendo sem muito conhecimento de tendências.

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Uma empresa que está procurando melhorar seus resultados nessa área deve começar por onde? De maneira sucinta e objetiva, quais as principais recomendações?

Diferente de grupos focais, em que os participantes estão sempre mentindo, nas redes sociais as pessoas mentem menos. Dessa forma, podemos analisar como elas pensam e também o que procuram, independente de como apresentem sua melhor versão de si. É melhor quando você consegue enxergar dessa forma e o Google também sabe disso.

Se você, por exemplo, esconde algum impulso relativo à homossexualidade e procura por seus interesses online, o Google sabe que você é gay. Socialmente você pode até negar e dizer “eu amo minha esposa” nas suas redes sociais ou compartilhar essa informação de forma privada, mas o Google sabe tudo. Ele entende que nossos interesses nos definem.

Falando um pouco do seu trabalho como consultor e palestrante, que tipo de empresa geralmente contrata seus serviços? O que busca?

Lidamos com muitos setores como moda, hospitalidade, automotivo, oportunidades de negócios, e outros, que acabam se relacionando com consumidores. Existem outras tendências, como Big Data e Inteligência Artificial que são relevantes para consumidores. Quando se coloca tudo junto é possível falar de experiências dos consumidores que interessam a todos os setores. As companhias, quando descobrem algo, nos chamam para fornecer insights, mas acaba sendo algo sigiloso.

Na VendaMais somos bem focados em Vendas, então vamos falar um pouco mais sobre isso. Na sua opinião, quais são os erros mais comuns que você vê as empresas cometendo em relação aos assuntos acima? Quais dicas ou informações você vê sendo ditadas pela mídia sobre esse assunto com as quais claramente não concorda?

Eu estive no painel da Mutant University com o Fabio Mariano e ele disse algo brilhante. Toda a mídia fala sobre os millennials e está certa ao dizer que uma parte deles, a parte do topo, é muito mais curiosa. Eles são mais focados em experiências em seus empregos, gostam de pular de emprego em emprego para a próxima experiência significativa. Estão menos preocupados em ganhar muito dinheiro e mais em ter uma vida significativa, ou seja, todos os clichês são verdade.

Mas também há os millennials que não estão no topo da cadeia econômica, que são menos privilegiados. Esses não falam sobre qualidade de vida, sobre deixar as opções abertas, sobre comer quinoa, sobre explorar o mundo viajando. Afinal, eles não têm uma posição financeira que os permita isso. Não dá para focar nos millennials hipster, como se todos fossem hipsters. Há aqueles que estão casando aos 20 anos ou estão tendo seus filhos aos 18. Não tem como agir como se todos os millennials fossem hipsters. Isso é estupidez. Tem que haver um estudo social, não só escolher alguns momentos e dizer que isso é tendência entre todos.

A ideia que a mídia vende de que os hipsters são a bandeira da geração millenial é míope, estúpida, midiática e não sociológica, é superficial. Outro exemplo é a insistente sexualização subjacente na grande mídia.

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