Guerreiro, Rebelde, Soberano, Sábio, Mágico ou Palhaço?

Decidi não falar de crise – seja de forma negativa (perda de oportunidades) ou positiva (criação de oportunidades) – neste editorial. Sobre isso todo mundo está falando. Quero falar sobre algo bem mais importante. Quero saber o seguinte: você sabe quem você é? Entende como o mundo percebe você? E sua empresa?

Minha intenção é escrever um texto diferente, mais provocativo, que apresente realmente opções alternativas e ampliem seu horizonte e seu conhecimento. Para isso, quero falar de arquétipos.

A palavra arquétipo significa, literalmente, um modelo original a partir do qual todas as cópias são feitas. De origem grega, arche significa origem; tupos significa modelo, padrão ou tipo.

A origem da palavra remete ao filósofo Platão, que acreditava que as ideias eram formas mentais impressas nas nossas mentes antes de nascermos, sendo universais, pois definiam conceitos básicos dos objetos analisados.

No século passado, o psicólogo suíço Jung utilizou a expressão e a tornou popular no seu clássico O homem e seus símbolos e também nos seus escritos sobre Os arquétipos e o inconsciente coletivo.

A teoria é complexa e profunda, integrando conjuntos de memórias e associações pessoais e coletivas, mas rapidamente ganhou simpatizantes que reconheceram nela uma forma de trabalhar características de personalidade. Arquétipos representariam, por essa teoria, motivos humanos fundamentais e, por isso, estariam ligados diretamente, chegando emoções básicas, fundamentais, de maneira intensa.

Mais recentemente, agências de publicidade e de branding vêm trabalhando os arquétipos para ajudar a definir e comunicar melhor a personalidade, o posicionamento e os diferenciais de uma marca. Quando você entende corretamente seu arquétipo, fica fácil alinhar a comunicação, a prospecção e a atração de clientes – o que diferencia você da concorrência.

Marcas conhecidas, como Nike, Apple, Microsoft, Google, Coca-Cola, McDonald’s, Toyota e Facebook têm uma personalidade muito forte e, depois de ler a lista dos arquétipos e suas características, você conseguirá identificar claramente qual o arquétipo de cada uma delas.

Da mesma forma, podemos definir os arquétipos de cada uma das pessoas de uma empresa. Carol S. Pearson tem até um livro sobre isso – Understanding Archetypes in Your Organization (Entendendo arquétipos na sua organização, em tradução livre). Por exemplo: um gerente ou diretor comercial poderia definir quais são os arquétipos dos seus melhores vendedores e trabalhar para mantê-los engajados e satisfeitos, sabendo exatamente o que lhes motiva. Vale, também, usar os arquétipos para compor uma equipe de vendas diferenciada, de alta performance. Poderia, ainda, entender por que alguns clientes são mais fáceis de serem atendidos; por que alguns vendedores se encaixam e outros não; por que alguns reagem fazendo “zig”, enquanto outros fazem “zag” (ou ficam parados) e assim por diante.

Uma ferramenta fantástica que pode ser usada aqui é o Indicador de Arquétipos de Pearson-Marr (também desenvolvido por Carol S. Pearson, que descreveu os conceitos nos livros O despertar do herói interior e O herói e o fora da lei).

De maneira simples, existem 12 arquétipos. Todos nós temos vários deles integrados na nossa personalidade – se não todos –, mas geralmente um é mais forte e direciona nossa vida (você pode mudar de arquétipo dominante com o passar do tempo ou dependendo da situação).

Perguntas importantes para você pensar e prestar atenção antes de passarmos aos arquétipos:

  • Em qual deles você acha que se encaixa mais? E as pessoas importantes da sua vida?
  • Em qual arquétipo sua empresa se encaixa?
  • Seus melhores clientes se encaixam em algum tipo de arquétipo?

Os 12 arquétipos e como entendê-los melhor

– O Inocente

Pessoas desse tipo de arquétipo geralmente têm uma visão infantil e otimista da vida e acreditam que, se tentarem e se esforçarem, tudo sempre vai dar certo no final. Os perigos desse arquétipo incluem confiar demais nos outros e determinar metas e objetivos irreais.

Slogan: Eu nasci assim, eu cresci assim (e quero continuar assim).

Maior objetivo: Segurança e busca do paraíso.

Maior medo: Ser abandonado, ficar sozinho e ser castigado por ter feito algo errado.

Reação a problemas: Negação ou procura do salvador “adulto”.

– O Órfão

O Órfão é uma figura de transição entre o Inocente e o Guerreiro. Órfãos são naturalmente independentes e desconfiam da autoridade. Por causa da sua desconfiança nos outros, correm o risco de ficarem isolados, eternamente vítimas, ou reagindo violentamente (abuso).

Slogan: Somos todos iguais.

Maior objetivo: Recuperar a segurança.

Maior medo: Ser explorado.

Reação a problemas: Esperança de salvação ou acomodação cínica.

– O Guerreiro

O Guerreiro está preocupado com a defesa de seu território (físico e psicológico) e com o atingimento de metas (pessoais e do grupo ao qual pertence). Ele traça planos para atingir suas metas pela força e raramente trai seu código de honra. O risco dos Guerreiros é achar que a violência é a resposta para todas as situações.

Slogan: Com vontade, determinação e persistência vencerei. E saia da frente.

Maior objetivo: Vencer.

Maior medo: Fraqueza/impotência.

Reação a problemas: Matar, derrotar ou converter.

– O Cuidador

Guiar, ensinar e prover são os principais impulsos desse arquétipo. O risco do Cuidador é entrar no papel de mártir, ou sufocar e devorar o objeto de seus cuidados.

Slogan: Ame o próximo como a si mesmo.

Maior objetivo: Sacrificar-se para ajudar aos outros.

Maior medo: Egoísmo e ingratidão.

Reação a problemas: Cuidar de quem está sofrendo.

– O Aventureiro

O Aventureiro está sempre buscando algo diferente ou melhor. Visando sair de uma vida limitada – física ou psicologicamente –, o Aventureiro sai desbravando novos caminhos, procurando descobrir o mundo e a si mesmo. Essa busca eterna pelo novo/melhor, por outro lado, pode levar a uma inabilidade crônica de se comprometer e um padrão repetitivo de atingir, com consequências potencialmente negativas, os limites de suas habilidades/conhecimentos.

Slogan: Não me amarre ou prenda.

Maior objetivo: A busca de uma vida melhor.

Maior medo: Conformidade, acomodação, limitações.

Reação a problemas: Fugir, escapar.

– O Amante

A habilidade do Amante é a conexão – seja com pessoas, atividades ou objetos. O Amante é um apaixonado pela vida e entende (sente) o equilíbrio delicado entre ela e a morte. O risco do Amante é seduzir (ou ser seduzido) com frequência, sem pensar ou entender as consequências para si e para os outros.

Slogan: O amor tudo cura e supera.

Maior objetivo: Felicidade, união.

Maior medo: Não ser amado, desconexão, desunião.

Reação a problemas: Aceitação e amor.

– O Rebelde (ou Destruidor)

Destruir a forma antiga de fazer as coisas é a missão do Rebelde. A necessidade de destruir pode ser pessoal ou fazer parte de um grupo em nome de um mundo melhor. O risco do Destruidor é cair em um padrão repetitivo de destruir só por destruir ou de contestar por contestar (sem saber o que construir depois), levando a uma vida vazia e sem sentido.

Slogan: Hay gobierno? Soy contra.

Maior objetivo: Metamorfose.

Maior medo: Estagnação, morte.

Reação a problemas: Destrua o problema ou seja destruído por ele.

– O Construtor (ou Criador)

Esse é um arquétipo que expressa a criação, a criatividade, o crescimento e a síntese. Criadores gostam de repensar e recriar mesmo atividades básicas, do dia a dia, mas precisam ter cuidado para viver no mundo real e não no mundo dos sonhos.

Slogan: Tudo que é imaginado pode se tornar realidade.

Maior objetivo: Criar uma forma nova (de fazer ou viver).

Maior medo: Fracasso.

Reação a problemas: Abraçá-lo e torná-lo um desafio.

– O Soberano

Soberanos gostam de ordem e harmonia e trabalham para assegurá-los no que definem como seus “domínios” ou “territórios” (físicos ou psicológicos). Soberanos são líderes por natureza, organizam bem atividades e grupos de pessoas. Eles correm o risco de eliminar vozes discordantes e tornarem-se tiranos.

Slogan: Manda quem pode. E eu posso.

Maior objetivo: Um reino organizado, harmonioso e próspero.

Maior medo: Caos, desorganização, perda de controle.

Reação a problemas: Organizar e mobilizar o grupo para superá-los.

– O Mágico

O poder do Mágico é a transformação – seja de si mesmo, dos outros ou de uma realidade ou situação. Esse poder pode ser usado também para enganar, distrair ou manipular. É o arquétipo do mistério, da improvisação, da ilusão e da realidade, da verdade e da mentira.

Slogan: Eu faço acontecer.

Maior objetivo: Transformar ou aumentar a realidade atual.

Maior medo: Transformação negativa, ser enganado, ser desmascarado.

Reação a problemas: Transformá-los ou alterar a perspectiva sobre eles.

– O Sábio

O Sábio procura ver além das aparências para descobrir a “verdadeira verdade”. Sua busca é por conhecimento e ele usa esse conhecimento para ajudar os outros, não como forma de controlá-los. Desilusão, cinismo e excesso de teorização são os riscos dos sábios que se encastelam atrás (ou em cima) do seu conhecimento para fugir da realidade e do dia a dia.

Slogan: A verdade liberta.

Maior objetivo: Verdade, compreensão.

Maior medo: Decepção, ilusão.

Reação a problemas: Estudar, entender e superar.

– O Tolo (ou Bobo)

Uma volta iluminada à infância é o que caracteriza os Tolos. Eles são alegres, simpáticos, curiosos, sábios e podem “bancar o palhaço” para divertir os outros, mas sempre com uma lição ou recado por trás da história. O Tolo consegue representar os personagens de todos os outros arquétipos sem cair nos seus riscos. O risco do Tolo é ficar cínico em relação a tudo ou bagunçar desnecessariamente a vida dos outros.

Slogan: Só se vive uma vez.

Maior objetivo: Alegria, prazer, sensação de estar vivo.

Maior medo: Opressão, tristeza, dor.

Reação a problemas: Humor.

Mais do que uma leitura leve, divertida e inspiradora, espero que você sinta também o poder que há por trás dos arquétipos na melhora de relacionamentos, no entendimento mais profundo de quem você é, no recrutamento e na seleção de pessoas (inclusive de clientes), na comunicação com o mercado e no seu papel e comportamento como líder.

Perguntas importantes para pensar e debater em relação aos arquétipos:

– Relendo a lista, quais você acha que definem você melhor? Com qual você mais se identifica? (Lembrando que pode ter um principal e outros de apoio).

– Baseado no seu arquétipo principal, quais são seus pontos fortes?

– E quais são os pontos fracos? Como melhorar isso?

– Com quais dos arquétipos você tem mais facilidade de relacionamento? Por quê?

– Com quais dos arquétipos você tem mais dificuldade de relacionamento? Como melhorar isso?

– E a sua empresa – qual arquétipo seria?

– Como os pontos positivos desse arquétipo podem ser mais bem comunicados para o mercado?

– Que outras ideias surgem ao pensar nos arquétipos? Onde mais eles podem ser usados na sua vida pessoal ou profissional?

Abraços aventureiros, mágicos, construtores e sábios.

Raul Candeloro

 

Conteúdos Relacionados

Todo bom vendedor é um Masterchef

Todo bom vendedor é um Masterchef

Recentemente, num cruzeiro que fizemos pelo Caribe, tivemos a chance de participar de um “mini programa” do MasterChef no navio.

Algumas pessoas da plateia são escolhidas, recebem uma lista de ingredientes e precisam criar pratos com os ingredientes, apresentando-os depois para serem avaliados pelo júri (no caso, o capitão do navio e dois de seus assistentes).

Continuar lendo

Pin It on Pinterest

Rolar para cima