Resiliência, mindset fixo e incremental e por que essa atitude é fundamental em Vendas (e na vida)

resiliência

Resiliência é um termo que vem da física e significa a propriedade que alguns corpos apresentam de retornar à forma original após terem sido submetidos a uma deformação elástica.

Pense numa esponja: você aperta e ela encolhe, você deixa de apertar e ela volta ao formato anterior. Ou uma mola: você aperta e ela encolhe, você solta e ela volta ao formato anterior.

Quando falamos de alta performance, resiliência passa a ser uma atitude que está fortemente ligada ao repertório emocional de pessoas de sucesso.

Em vendas, gestão e liderança, que são as áreas em que atuo e busco ajudar pessoas e empresas a melhorarem resultados, vejo resiliência como cada vez mais necessária.

Resolvi então escrever este artigo para ajudar mais pessoas como você a desenvolverem essa atitude. Se quiser, poste seus comentários e sua própria experiência sobre o assunto, pois pode ajudar ainda mais pessoas (e enriquecer com seus próprios conhecimentos e aprendizados).

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Conceito

No livro A Vantagem da Resiliência (The Resiliency Advantage, ainda sem tradução no Brasil), Al Siebert, diretor fundador do The Resiliency Center em Portland, Oregon, descreve que “pessoas resilientes são flexíveis, adaptam-se a novas circunstâncias rapidamente e crescem em ambientes de mudanças constantes. Mais importante ainda, pessoas resilientes esperam reverter situações negativas e tem confiança de que conseguirão fazê-lo. Elas conseguem ter (ou melhor – criar) ‘sorte’ em situações onde pessoas não resilientes diriam ‘que azar!’”.

Já Barbara Fredrickson, PhD e autora do livro Positividade (Ed. Rocco), explica que nas suas pesquisas, as pessoas com alta resiliência tem um repertório emocional fortemente diferente das pessoas que não tem resiliência.

As pessoas resilientes têm a habilidade de sentir ao mesmo tempo emoções positivas e negativas mesmo em situações extremamente difíceis ou dolorosas. Elas sentem pesar, sofrem com as perdas, passam por frustrações como todo mundo, mas nessas aparece uma diferença fundamental, que é a capacidade de enxergar algo positivo ou de valor na situação, por mais negativa que pareça ser.

Quando pessoas não resilientes passam por dificuldades, TODAS as suas emoções e pensamentos ficam negativos, diz Fredrickson. Se as coisas estão bem elas sentem-se bem, se as coisas vão mal elas sentem-se mal. (Ou seja, elas são reativas em relação às suas emoções – só reagem e aceitam passivamente o resultado emocional).

Pessoas resilientes, por outro lado, procuram ativamente sair desse lado negativo e encontrar alguma coisa positiva na situação. Ao mesmo tempo que aceitam a seriedade e a parte negativa de uma situação complicada, mesmo assim vão procurar pró-ativamente algo positivo. Por exemplo, é comum uma pessoa resiliente dizer coisas como “Veja bem… podia ter sido pior”.

Segundo Fredrickson, pessoas não resilientes, nessas horas, acusam as resilientes de serem ingênuas, Polyannas que saltitam alegremente mesmo na desgraça. Mas não é nada disso.

Resiliência não é suprimir emoções negativas e fazer de conta que não existem. Pelo contrário – pessoas resilientes sentem a dor e não se escondem dela. O que elas não fazem é dar carta branca e plenos poderes aos sentimentos negativos. Não deixam que eles assumam o controle. Para uma pessoa resiliente existe sempre um equilíbrio: “sim, estou sentindo o desconforto e a frustração, mas ao mesmo tempo vou procurar equilibrar isso com alguma coisa positiva – praticando a gratidão, por exemplo.”

Numa entrevista muito interessante para o site MindTools, o especialista Dr. Cal Crow, co-fundador e diretor do Center for Learning Connections em Lynwood, Washington, elencou vários outros atributos de pessoas com resiliência:

  • Visão positiva do futuro.
  • Metas e objetivos claramente definidos.
  • Vontade e motivação para atingir esses objetivos (engajamento com as metas).
  • Sem arrogância e de maneira equilibrada, não perdem muito tempo preocupando-se com o que as outras pessoas pensam delas.
  • Não pensam como vítimas (complexo de vítima, vitimização). Não sentem-se perseguidas por forças superiores, ocultas ou não. Pelo contrário, seu foco está sempre no que tem CONTROLE (da lista dos 3 Cs da Susan Cobasa, que veremos mais à frente.)

Em trabalho publicado no Journal of Personality and Social Psychology em 1979 sobre as características de personalidade que distinguiam gestores e executivos de empresas em ambientes de tensão e stress, a psicóloga e especialista norte-americana Suzanne Kobasa definiu 3 elementos como essenciais à Resiliência (ela prefere o termo ‘Hardiness’, que seria mais associado à dureza/resistência emocional em português):

Os 3 Cs de Suzanne Kobasa: challenges, commitment and control

Desafios (challenges)

Pessoas resilientes enxergam dificuldades como desafios, não como eventos paralisantes. Erros e falhas são vistos como lições e oportunidades de crescimento. Elas não enxergam o fracasso como uma reflexão negativa das suas habilidades ou valor como pessoa.

Dedicação (commitment)

Pessoas resilientes dedicam-se às suas vidas e seus objetivos e tem um ‘porque’ (o famoso Reason Why) para levantar-se da cama todos os dias e encarar seus desafios. Essa dedicação não aparece apenas no trabalho mas também na sua vida pessoal, com dedicação às causas nas quais acreditam, aos seus relacionamentos com família e amigos e também às suas crenças espirituais.

Controle (control)

Pessoas resilientes investem seu tempo e energia com foco em situações onde elas tem CONTROLE pessoal. Justamente por dedicarem seu tempo e energia a coisas que controlam, elas acabam com uma sensação de confiança e alta auto-estima. Pessoas que perdem tempo preocupando-se com situações que não controlam muitas vezes sentem-se perdidas e sem poder para mudar ou agir. Com isso, acabam perdendo resiliência. Por isso é fundamental em resiliência focar no que você tem controle.

Outro aspecto importante a se analisar vem de Martin Seligman, pai da psicologia positiva e autor de diversos livros sobre o Otimismo. Seligman reforça que a forma como conversamos com nós mesmos, a forma e a linguagem que usamos para nossos diálogos internos em casos de contratempos também é muito importante.

Ele chama isso de “sistema explanatório” e também é composto de 3 elementos.

Os 3 Ps de Martin Seligman: permanence, pervasiveness and personalization

– Permanência (permanence)

Pessoas que são otimistas (portanto tem mais resiliência) enxergam os efeitos de eventos negativos como temporários e não permanentes. Por exemplo, eles diriam “Da última vez que tentei não deu certo” e não “Nada do que eu faço dá certo”.

– Disseminação (pervasiveness)

Pessoas resilientes não deixam contratempos ou eventos negativos numa área da sua vida disseminarem-se e contaminarem negativamente outras áreas ou aspectos da sua vida. Por exemplo, ao invés de dizer “tudo na minha vida está errado”, uma pessoa otimista e resiliente diz “estou com problemas no trabalho e isso está me atrapalhando um pouco”.

– Personalização (personalization)

Pessoas que têm resiliência não se culpam quando eventos negativos acontecem. Elas enxergam a verdadeira causa dos problemas: outras pessoas, processos, situações. Por exemplo, diriam “não consegui entregar o projeto a tempo porque meu chefe acabou me dando mais coisas para fazer e não tinha tempo hábil de fazer tudo” e não “sou um incompetente mesmo, nunca consigo entregar um projeto dentro do prazo”.

Dicas para você melhorar sua resiliência

Livro “Vença o stress e controle a pressão antes que eles dominem você” - a busca pela resiliência

Alerta e radar ligado para seus pensamentos

Pessoas resilientes patrulham seus pensamentos o tempo inteiro e estão sempre ligadas ao tipo de energia do pensamento (positiva/negativa), sendo experts em reconhecer quando estão indo para o ‘lado negro da Força’ e redirecionando a energia para o positivo (O que posso fazer para melhorar isso?).

Cuidado com sistema explanatório

Pessoas resilientes não caem na armadilha do sistema explanatório negativo. Então se você pegar-se pensando que uma situação negativa é permanente, está se disseminando pela sua vida inteira e é uma perseguição pessoal (do destino, do azar, de alguma força maior), pare e reveja isso rapidamente.

Escolha sua resposta (mental e física)

Lembre-se que todos passamos por maus momentos e todos temos crises. Sucesso acontece não porque não aconteceu nada negativo na nossa vida mas por termos SUPERADO estes momentos difíceis (ou seja, apesar de…). Você pode reagir sempre de duas formas: de maneira negativa, emocional e focar no que não tem controle. Ou pode ter calma, ser mais racional e focar no que tem controle. Pessoas resilientes prestam muita atenção nisto e procuram escolher com mais frequência a 2ª opção.

Mantenha a perspectiva

Pessoas resilientes entendem que, embora negativa agora, neste momento, a maior parte das crises raramente dura ou tem grande impacto a longo prazo. Mantenha a perspectiva e não faça um problema ser maior na sua imaginação do que é na realidade.

Medite

A prática frequente da meditação aparece em vários estudos e é citada por vários autores que estudei. Carol Orsborn, autora do livro Resiliência: 100 paths to wisdom and strength in an uncertain world (Resiliência: 100 caminhos para a sabedoria e força num mundo incerto, traduzido no Brasil como A Arte da Flexibilidade) cita especificamente as pausas para meditar durante o dia, mesmo que curtas, como um ‘recarregar das baterias emocionais’ fundamental para aumentar e fortalecer a resiliência.

Tenha um pensamento questionador

Question Thinking é uma metodologia para resolver problemas criada pela psicoterapeuta e coach Marilee Adams, PhD. O pensamento questionado encoraja as pessoas a encararem problemas e situações complexas como DESAFIOS, fazendo perguntas para avaliar melhor as opções disponíveis.

  • Sobre o que tenho controle?
  • O que posso fazer?
  • Quem pode me ajudar?
  • O que preciso aprender ou pesquisar para lidar melhor com isso?
  • O que preciso desenvolver para lidar melhor com isso?
  • Quem já passou por isso antes e que poderia me aconselhar?

Note que estas perguntas questionadoras são completamente diferentes (e muito mais úteis em termos de resiliência) de perguntas julgadoras, como “De quem é a culpa?”,  “Porque isso sempre acontece comigo?”, etc.

Mais perguntas que estimulam a resiliência:

  • Como posso conter esta situação para que não piore?
  • O que posso fazer para limitar a duração ou o impacto desta situação?
  • Como posso reverter e até ganhar alguma coisa com isto?
  • Qual seria a resposta mais inteligente para esta situação?

Personagens e referências

No seu livro “Resiliência: a ciência de superar os maiores desafios da vida”, os psiquiatras Steven Southwick e Dennis Charney recomendam um exercício interessante para aumentar a resiliência, que é o de você escolher um personagem forte e colocar-se no papel dele/dela. Pessoas ou personagens, da vida real ou não, que você admira e que tem as características que você precisa naquele momento para superar uma dificuldade. Pense “O que ele/ela faria nesta situação? Como reagiria?”. Usar um modelo forte como referência muitas vezes vai lhe dar força também, uma nova perspectiva e ânimo redobrado.

Pratique a gratidão

Frederickson recomenda um trabalho chamado de ‘desadaptação’ para entender melhor a gratidão. Ela explica que o que geralmente acontece é que uma situação negativa ganha muito poder emocional dentro de nós e aí esquecemos que temos uma série de coisas boas acontecendo na nossa vida. As coisas boas ficam em 2º plano, completamente abandonadas – viram paisagem. Praticar a gratidão faz com que você pró-ativamente procure essas coisas boas, mesmo que simples, e dê-lhes o devido valor que merecem.

Transforme problemas em DESAFIOS

desacelere

Chamar um problema de desafio é mais do que uma questão semântica ou um jogo de palavras. Problema significa ameaça e sofrimento. Desafios são oportunidades. Então pergunte para você mesmo como transformar uma situação negativa em algo potencialmente produtivo.

David J. Hellerstein, professor de psiquiatria na Columbia University, explica que existem inclusive diferenças fisiológicas marcantes entre as duas abordagens (problema x desafio).

Quando você encara uma situação como uma ameaça, seu sistema de alerta primitivo entra imediatamente em ação. Isso significa que seu cérebro vai liberar hormônios como cortisol e endorfina que vão aumentar sua pressão sanguínea, o nível de glicose no seu sangue e seu nível de ansiedade.

Em contraste, quando uma situação é encarada como desafio, seu cérebro libera hormônios que promovem a reparação de células, respostas mais relaxadas e estímulo a um uso mais eficiente da sua energia.

Desenvolva o mindset de crescimento: De acordo com Carol Dweck, especialista no assunto e autora do livro Mindset, de maneira simplificada existem dois tipos de mindset:

– Mindset fixo

A pessoa acha que já nasce com talento (não só talent – habilidade natural) para fazer algumas coisas ou não. Você é basicamente bom em algumas coisas e ruim em outras e é isso aí. O segredo do sucesso é encontrar coisas na vida onde você é bom e dedicar-se a isso. Pessoas de mindset fixo não acreditam muito em treinamento (ou você é bom ou não é – não é o treinamento que faz a diferença) e também não reagem muito bem a feedback de melhoria (ou você é bom ou não é – então não adianta dar feedback porque ela não sabe o que fazer com ele, já que não acha que consegue mudar).

– Mindset incremental, ou de crescimento

A pessoa acha que você nasce com facilidade maior para algumas áreas mas que TODAS elas podem ser melhoradas/desenvolvidas, desde que você dedique-se a isso. Pessoas de mindset incremental acreditam em desafiar-se continuamente, como forma de crescimento e aprendizado. Reagem bem ao feedback e treinamentos (tudo que for processo de melhoria, estão dentro). Não é ‘sou ruim nisso’, é ‘ainda não sou bom nisso’.

Pessoas de mindset de crescimento acabam naturalmente sendo mais resilientes, por isso é importante trabalhar este aspecto e desenvolver essa habilidade.

Teste: você é uma pessoa resiliente?

Este teste foi extraído e adaptado do livro A Vantagem da Resiliência (The Resiliency Advantage), de Al Siebert, fundador do The Resiliency Center em Portland, Oregon.

Dê a você mesmo uma nota de 1 a 5. (1 – discordo completamente; 5 concordo completamente)

  1. Sou geralmente otimista. Vejo dificuldades como temporárias e espero superá-las.
  2. Sentimentos de raiva, perda ou desmotivação não duram muito.
  3. Consigo tolerar altos níveis de ambiguidade e incerteza.
  4. Consigo me adaptar rapidamente a novos acontecimentos. Sou curioso. Faço perguntas.
  5. Sou brincalhão. Encontro humor mesmo em situações difíceis. Consigo rir de mim mesmo.
  6. Aprendo lições valiosas com minhas próprias experiências e as experiências dos outros.
  7. Sou bom em resolver problemas e reverter situações difíceis. Sou bom em fazer coisas que não funcionam começarem a funcionar bem novamente.
  8. Sou forte. Agüento bem as situações difíceis na minha vida.
  9. Consigo encontrar coisas positivas nos meus problemas e transformo em benefícios e aprendizagem as experiências negativas.

Resultados:

Menos de 20: Baixa resiliência

Você provavelmente tem problemas em lidar com pressão e contratempos e sente-se mal quando criticado. Quando as coisas vão mal você pode sentir-se desamparado e sem esperança. Recomendação: procure um coach ou psicólogo para ajudar a desenvolver e trabalhar sua resiliência.

De 20 a 20: Média resiliência

Você já começou a desenvolver algumas habilidades da resiliência, mas ainda tem muitas oportunidades de melhoria. Procure na lista de recomendações alguns pontos para trabalhar e se desenvolver. Um coach ou acompanhamento de psicólogo podem acelerar muito seu processo de desenvolvimento.

De 30 a 35: Resiliência adequada

Você é uma pessoa automotivada, que gosta de aprender e que se recupera bem da maior parte dos seus desafios. Procure estudar mais sobre resiliência e, de forma consciente, trabalhe para melhorar suas habilidades nesta área. Elas vão lhe dar ainda mais condições de encontrar alegria e energia positiva na sua vida, mesmo em situações difíceis.

De 36 a 45: Altamente resiliente

Você se reequilibra emocionalmente mais rapidamente do que a maior parte das pessoas. Consegue desenvolver-se bem e conviver com ambientes de alta pressão e desafios constantes. Aproveite essas suas habilidades e sirva de mentor/a, ajudando que mais pessoas consigam desenvolver-se também e compartilhe abertamente suas experiências com o intuito positivo de ajudar.

Perguntas coach para colocar o que vimos sobre resiliência em prática:

a) Da lista de recomendações para melhorar a resiliência, quais itens já pratico normalmente no meu dia a dia?

b) Dessa mesma lista, qual item ou itens eu poderia colocar imediatamente em prática para melhorar minha resiliência?

c) O que vou ganhar de positivo se desenvolver ainda mais minha resiliência?

d) Como e quando vou colocar isso em prática?E você – como tem praticado resiliência no seu dia a dia? Conhece alguém que poderia se beneficiar destas dicas? Curta, compartilhe, comente!Abraços resilientes,

Raul Candeloro
Diretor

***

Referências bibliográficas, para quem quiser se aprofundar e estudar mais o assunto Resiliência

  1. The Resiliency Advantage, Al Siebert
  2. Positividade (Ed. Rocco), Barbara Fredrickson
  3. The Hardy Executive, Salvatore Maddi e Suzanne Kobasa
  4. Aprenda a ser Otimista (Nova Era), Martin Seligman
  5. A arte da flexibilidade (Cultrix), Carol Orsborn
  6. Resilience: The Science of Mastering Life’s Greatest Challenges, Dennis Charney e Steven Southwick
  7. Mindset, A nova psicologia do sucesso (Objetiva), Carol Dweck

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