Confira entrevista com Luciano Pires.

O mundo é feito de gênios e de idiotas. A maioria das pessoas está no meio, alguns mais próximos da genialidade ? os talentosos ?, outros da idiotice ? os inferiores. Onde é que você se encontra? Se é exatamente no meio, você é medíocre (o que está no meio). E em um mercado competitivo, ser medíocre é ser invisível. Escolha.

Vamos começar falando do seu livro Diário de um líder. Qual é a principal ideia ou conceito que você defende nele?

Como o nome diz, o tema é liderança. O livro reúne várias reflexões e uma série de histórias, sob a forma de crônicas, de coisas que aconteceram comigo ou que vi acontecer e que trazem alguma mensagem sobre os atributos necessários a quem quer desenvolver a capacidade de liderança. Minha mensagem é que vivemos em uma era de hipocrisia, na qual o discurso vai para um lado e as atitudes vão para outro. Manter o foco, o caráter e a integridade é fundamental para quem aspira ser um líder. Provocação, bom humor e uma incomodação ao se ver no espelho é o que eu prometo.

Como você começou como palestrante?

Comecei na empresa em que trabalhava. Palestrava para minha equipe e nas grandes reuniões de prestações de contas e planejamento. Um dia fui convidado a palestrar em um evento do segmento automotivo sobre os temas que envolviam minha atividade na área de marketing. Fui muito bem e senti que ali haveria um talento a ser explorado. Daí foi investir e desenvolver.

Que tipo de empresas geralmente contrata seus serviços? O que elas buscam em suas palestras?

Todo tipo de empresa. Já falei para plateias com 300 policiais, para o público de igreja evangélica, para altos executivos da Vale e da Petrobras e até para os jogadores da Seleção Brasileira de Futebol, na Granja Comari, antes de um jogo nas eliminatórias da Copa de 2006. As empresas buscam um momento de quebra da rotina, de ampliação de sentidos, de provocação e inspiração.  Mas esses objetivos variam de evento para evento.

Por outro lado, que tipo de evento ou treinamento não é adequado para você? Ou seja, que tipo de problemas, situações ou treinamentos você geralmente prefere não aceitar ou repassar para algum colega?

Não aceito aqueles que têm caráter técnico, que extrapolam minha área de atuação. Recentemente recusei palestrar em um evento que trataria especificamente de técnicas de atendimento a clientes. Essa não é a minha praia. Também não aceito eventos políticos, especialmente em organizações que vão contra minhas convicções, não me sinto confortável.

Qual é o seu diferencial em relação a outros profissionais? Qual é a sua “marca registrada”?

Sou, antes de tudo, um cartunista, alguém treinado para olhar as situações cotidianas como uma grande piada. Por isso tenho como característica a ironia, o sarcasmo e o bom humor, mas sempre a serviço das ideias, do conteúdo. Sou absolutamente obsessivo na manutenção de coerência do conteúdo com a forma de apresentar. Minhas piadas têm sempre “moral da história” e por isso obtenho um impacto bastante positivo. Não faço gracinhas gratuitas. Isso não é propriamente um “diferencial”, pois conheço outros que fazem coisas parecidas. Talvez meu diferencial esteja em uma inusitada combinação: um cartunista que virou empreendedor, depois alto executivo de multinacional, experimentou algumas viagens inusitadas (entre elas o Campo Base do Everest e o Polo Norte) e retornou, aos 52 anos, para um empreendimento próprio. Isso proporcionou uma experiência rica, que aparece em minhas palestras.

Além do seu próprio site (www.lucianopires.com.br), quais outros sites da área recomenda para quem quiser se aprofundar no assunto?

Bem, primeiro os meus; tenho vários: www.portalcafebrasil.com.br, um portal que construí para reunir conteúdos e pessoas interessadas em trabalhar para “desemburrecer” a si próprios e o Brasil; o www.podcastcafebrasil.com.br, site de meu podcast, um programa de rádio distribuído pela internet que está chegando ao episódio 300; o www.iscasintelectuais.com.br,  site dos meus videocasts, “programetes” provocativos gravados em vídeo abordando certos temas delicados e até mesmo óbvios que deixamos para trás no dia a dia; o www.omeueverest.com.br, com minha viagem ao Everest em 2001;  e o www.omeuplonorte.com.br, com minha viagem ao Polo Norte, em 2008.  Depois, blogs das revistas de negócios como Exame, Época e outras. É possível encontrar pérolas em meio a muita porcariada por lá, especialmente nas indicações. Gosto muito das provocações (e indicações) do Ricardo Jordão do site  www.bizrevolution.com.br. Mas como o mundo ainda acontece em inglês, recomendo alguns sites e blogs  www.hbr.comwww.fastcompany.comblog.guykawasaki.com,
sethgodin.typepad.com/seths_blog/

Quais são seus livros de negócios ou autores preferidos?

Tenho dezenas de livros, sites e autores que adoro ler, mas meu livro de cabeceira chama-se Por uma educação romântica, de Rubem Alves. Esse causou um profundo impacto em meu dia a dia profissional. Leio Seth Godin, Kotler e Osterwalder entre dezenas de outros autores, até mesmo os mais antigos, como Thoureau e Lippmann. No momento, estou lendo Tudo que é ruim é bom pra você, de Steven Johnson. Dos nacionais, gosto dos textos provocativos do Thomaz Wood na Carta Capital, do Gustavo Iochpe na Veja, dos livros de Ricardo Semler e Mario Sergio Cortella, dos cursos de Clóvis de Barros Filho, do podcast True Outspeak de Olavo de Carvalho.

Qual foi a sua palestra mais memorável, a que mais lhe marcou?

Existem algumas, mas uma foi especial: a que realizei para o MBC – Movimento Brasil Criativo – em Brasília. Foi quando desenvolvi o que chamo de MC3 – Mestre de Cerimônias com Conteúdo. Dividi uma palestra em blocos de 8 a 15 minutos, intercalando com outros palestrantes – entre os quais um ministro e grandes empresários como Jorge Gerdau e debatedores. O trabalho foi executado em interação com o grupo gaúcho Tholl, uma espécie de Cirque do Soleil brasileiro. Apresentei meu conteúdo amarrando-o com o dos outros palestrantes e entrevistados. Fiz tudo o que se pode esperar de um palestrante, mestre de cerimônias, apresentador e moderador. Foram seis horas no palco, foi sensacional. É possível ver parte do resultado em http://www.youtube.com/watch?v=TFW3FLfEAIs

Qual foi a situação mais desastrosa ou engraçada que já aconteceu em uma das suas palestras ou eventos?

A mais inusitada foi a interrupção de uma palestra com a plateia saltando aos berros quando uma cobra coral entrou no auditório em Caruaru. A mais engraçada foi um “mico”: fui jogado em uma palestra mal “brifada”, peguei um público dificílimo e disposto a fazer algazarra. Dei um jeito de colocar umas imagens picantes para quebrar a animosidade da plateia logo na abertura, e quando entrei no palco havia cinco freiras na primeira fila. Tive de me virar para tirar as cinco da sala com educação e respeito… Uma ótima foi quando fui contratado para fazer uma palestra para o departamento comercial da IBM, na área de venda de laptops. Entrei para a palestra com um computador Dell e a plateia quase veio abaixo. Comecei elogiando a Dell e eles quase me expulsaram. Quando realmente iniciei a palestra, projetei uma tela que simulava um problema no laptop. A plateia urrava de prazer. Então coloquei a próxima tela que dizia: “Bem feito. Quem mandou não usar um IBM?”. Ganhei o dia.

Qual é o maior erro que você nota nas convenções ou nos treinamentos de empresas?

Amadorismo. Falta de planejamento no ritmo do evento, foco nos salgadinhos do coffe-break, enquanto o conteúdo fica em segundo plano. Inexperiência dos contratadores. Repetição de velhas e cansadas fórmulas… acho que dá para passar o dia listando os problemas. Convenções são grandes investimentos, são momentos únicos nos quais você tem a oportunidade de dar um tiro de canhão, reforçando pontos, inspirando, provocando. O que tenho visto são chatíssimas reuniões que só levam a mais do mesmo.

Por que você acha que tantas reuniões e tantos treinamentos são chatos ou improdutivos? O que poderia ser feito para melhorar isso?

Por serem organizados por amadores ou por gente esforçada que desconhece as possibilidades técnicas e estratégicas de construir um evento “matador”. Para melhorar: chamem os profissionais ANTES de definir o evento. Eu, por exemplo.

Que grande conselho ou dica você daria para alguém que deseja melhorar resultados no trabalho e/ou na vida?

Seja um inconformado e manifeste seu inconformismo. Não aceite a rotina, abomine quem quer mais do mesmo. Seja um pouco louco, saia da mediocridade. Não seja PREVISÍVEL.

Gostaria de deixar um último recado aos nossos leitores?

O mundo é feito de gênios e de idiotas. A maioria das pessoas está no meio, alguns mais próximos da genialidade – os talentosos –, outros da idiotice – os inferiores. Onde é que você se encontra? Se for exatamente no meio, você é medíocre (o que está no meio). E em um mercado competitivo, ser medíocre é ser invisível. Escolha.


Luciano PiresLuciana Pires é jornalista, cartunista, palestrante, executivo, escritor e, como ele mesmo diz, um incansável batalhador pelo “desemburrecimento” do Brasil. É colunista do Carreira & Sucesso  e sócio-diretor da Keynote Speakers.

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